O caminho pela selva!

Em Comitán prestes a começar a Semana Santa já dava para ter uma ideia do que estava por vir, estradas cheias, muitas barreiras policiais e militares, hospedagens lotadas e barulho, não estávamos dispostos a enfrentar os locais mais visitados de Chiapas neste período então optamos por seguir pela Carretera Fronteriza.

/ Praça central de Comitan!

Antes de seguirmos viagem e conhecermos as belezas da selva Lacandona, descemos a serra para visitarmos as primeiras quedas d’água em tons azuis e verdes em nossa passagem por Chiapas, as “Cascadas de El Chiflón” um conjunto de seis quedas formadas pelo Rio San Vicente de beleza hipnotizante. A subida até a Quinceañera que é a última queda no circuito, foi de tirar o fôlego nem tanto pela sumida mais pelo calor acrescido de muita umidade, a maioria das pessoas vão até a queda “Velo de Novia” e regressam, mas nós sempre achamos que vale o esforço de ir além para ter novas perspectivas.

Às margens do Rio San vicente e suas cores fantásticas!

Mais um dia em Comitan e fomos visitar a primeira zona arqueológica maia em nossa viagem pelo México, Tenam Puente, depois disto começamos os preparativos para a viagem pelas bordas da Guatemala.

Comida é uma coisa que nunca tivemos problemas para encontrar no México, mesmo nos lugares mais remotos sempre encontramos alguma casa onde vendiam refeições, mas diesel na região para onde nos dirigíamos era algo que precisava ser bem calculado.

O último posto antes do Parque Nacional Lagunas de Montebello em La Trinitaria fica há 270km de Benemérito de las Américas onde vale o completar outra vez o tanque para percorrer os 197km até Palenque sobretudo se quiser entrar e sair da selva nos trechos onde há locais de interesse, e como nossa pretensão era exatamente esta tivemos que calcular uma margem de rodagem maior por garantia, levando em conta o uso do ar condicionado, as muitas curvas e estradas de chão que sempre aumentam o consumo.

Nossa primeira parada neste trajeto foi o Parque Nacional Lagunas de Montebello onde ficamos por dois dias, lá existem mais de 59 lagunas, embora apenas 12 sejam acessíveis, cada uma mais impressionante do que a outra, não foi complicado encontrar lugar para acampar, no último dia ficamos às margens da Laguna Tzicao vendo os vagalumes.

O azul escuro de Cinco Lagos!
Um mergulho nos Cinco Lagos!!!
Cenote San Bartolo,a recompensa da suada subida!!!
Início da noite às margens do lago Tzicao!

A medida que íamos entrando pela Selva Lacandona ficava tudo mais tranquilo, embora muitos turistas, sobretudo mexicanos, também estivessem visitando estas áreas, mas ainda sim não tivemos noites barulhentas. Pegamos uma estradinha e chegamos ao Centro Ecoturístico Causa Verdes las Nubes, está certo que as cores de El Chiflón já tinham impressionado, mas eu pelo menos não me canso de ver coisas bonitas e Las Nubes é especial, apesar do clima agradável de Montebello ter ficado para trás e agora éramos presas fáceis de mosquitos e o calor ia se tornando perturbador para as caminhadas, mas é tudo sempre agradável e prazeroso no final das contas, está certo, menos a parte dos mosquitos!

Las Nubes, um pedaço do paraíso!
Tunel natural em Las Nubes!

Retomamos à Carretera Fronteriza desta vez descendo a serra e a cada curva mais belas paisagens iam surgindo, sempre íamos parando para desfrutar do ar perfumado da selva. Chagamos às Guacamayas (araras) onde são oferecidos passeios para ver os ninhos naturais destas aves coloridas, acabamos desistindo quando nos falaram o preço e que o passeio levaria quatro horas de caminhada num dia de sol escaldante e como ainda teremos várias oportunidades de vermos araras soltas em outros locais não nos parecia tão atraente assim.

Chegamos à Benemérito de las Américas e completamos o tanque conforme nossos planos. Deu tempo de sobra de chegarmos ainda de dia no Centro Ecoturístico Escudo Jaguar, onde não nos deixaram acampar alegando que o camping só era liberado depois que todas as habitações estivessem ocupadas, mas por uma diferença de R$10,00 não foi tão significativo assim e ficamos longe dos mosquitos pelo menos nesta noite. Muitos dos visitantes que chegam aqui saem em tours de Palenque todos querem ver de perto as ruínas de Yaxchilán às margens do Rio Usumicinta que separa o México da Guatemala.

Rio Usumicinta e as embarcações que levam até Yaxchilán!

A zona arqueológica de Yaxchilán só pode ser acessada de barco, depois disto seguimos por uma caminhada pela selva com direito ao som ensurdecedor dos macacos bugios, que aliás começam os gritos pela noite e terminam pela manhã, então valeu levantar cedo e sentir um pouco mais da vida na selva. Yaxchilán foi até o momento a zona arqueológica mais fantástica que visitamos, ela é exatamente aquilo que se espera de um “elo perdido”, as caminhadas vão revelando seus mistérios e belezas, não é como a maioria que numa visada já se vê muito ou tudo, tem que explorar mais para apreciá-la, o Edificio 33 é surpreendente e quando chegamos aos pés dele havia uma vegetação vermelha iluminada pelo sol aguçando ainda mais a nossa imaginação, ficamos tentando  nos remeter aos tempos de ouro do povo que aqui viveu.

De cara suada e muito felizes em Yaxchilán!
Macaco bugio em Yaxchilán!

Foi no Escudo Jaguar que conhecemos os três mexicanos do DF, Tanya, Erin e Diego e foi uma sorte poder compartilhar o barco com eles, além da oportunidade de conhecê-los saiu bem mais em conta para nós.

Por toda parte da selva Lacandona vivem grupos indígenas que preservam seus costumes e línguas, alguns não falam o espanhol e são bem tímidos, mas extremamente simpáticos, para nós os famosos lacandones que andam com suas vestimentas brancas que nos lembram mais camisolas das nossas avós, são extremamente comunicativos e conhecedores da selva, em Lacanjá acampamos em uma comunidade e ficamos com muita inveja da vida simples e tranquila que eles levam, muitos atualmente vivem do turismo, cada vez mais pessoas têm buscado estas áreas para experimentarem a vida na selva junto aos descentes dos antigos maias.

Nosso cantinho em Lacanjá!

Conseguimos no mesmo dia em que estivemos em Yaxchilán visitar Bonampak. Chegamos lá e de acordo com as informações que já tínhamos as opções para ir até as ruínas eram duas: caminhar 18km ou pagar pelo ônibus interno, já que nenhum automóvel particular tem permissão para entrar, nós escolhemos ir de ônibus. Quando pagamos pelo ônibus não tínhamos ideia da tortura que seria está curta viagem por uma estrada  de chão batido, o ônibus não tinha janelas e toda a poeira que levantava vinha direto grudar em nossos corpos suados, depois quando outro ônibus vinha na direção contrária comíamos um boa porção de terra, chegamos nas ruínas parecendo frango à milanesa. Eles precisam de melhorias urgentes por lá, ainda mais por um serviço que é cobrado a parte, traria conforto não somente para os visitantes como também para o pobre do motorista que tem que ficar usando máscara o dia inteiro.

Por fim depois de enfrentarmos a primeira etapa do “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima” chegamos às ruínas de Bonampak, apesar de pequena esta zona arqueológica esconde preciosas pinturas que retratam alguns dos principais costumes, cerimônias e a vida dos maias daqui, pode não ser a mais interessante em edificações, mas diante das pinturas tivemos certeza que se tratava de uma área merecidamente muito visitada.

Templo de las pinturas em Bonampak!
Templo de las pinturas em Bonampak!

De Bonampak visitamos as Cascadas de las Golondrinas, mas um espetáculo de cores e sempre com muita gente se refrescando, depois passamos por Tres Lagunas, onde estão criando crocodilos para reinseri-los em uma das lagunas. Nossa intenção era visitar a zona arqueológica de Piedras Negras do lado da Guatemala porque indo a partir do México o acesso é muito mais fácil, mas chegando ao local de onde saem os tours recebemos a notícia de que não fazem mais este passeio devido a problemas com traficantes que atiraram contra um grupo, quem nos contou foi o próprio senhor que guiava o grupo, ele disse que se quiséssemos ir sozinhos era só chegar até o rio e atravessar, mas depois de nos mostrar o carro ainda com as marcas de bala deixamos Piedras Negras de lado e seguimos decepcionados com a história que tínhamos acabado de ouvir, pois até então esta região que muitos disseram ser perigosa nos pareceu bem tranquila e policiada, embora este problema tenha acontecido há dois anos, ninguém quis voltar enquanto o governo mexicano não der uma assistência especializada para fazerem os tours, enfim, tinha um último destino que queríamos ir antes de chegarmos à Palenque, seria nossa despedida da Selva Lacandona.

Las Golondrinas!
Sinalização de alerta em Tres Lagunas!

Metzabok é uma biosfera protegida pelo Unesco mas que infelizmente ainda não recebe a atenção necessária e muitos sequer sabem dizer onde fica, quanto à sinalização pode esquecer, tem que ser parando mesmo e perguntando, a estrada tem um pequeno trecho de asfalto e o resto é de terra com muitos buracos, algumas partes seguem pela mata fechada onde sequer podíamos ver o céu. As duas primeiras tentativas foram frustradas íamos e voltávamos sem achar o caminho, até que finalmente um senhor explicou detalhamente o trajeto para o inicio da estrada. Quando finalmente chegamos a Metzabok já estava começando a escurecer e se quiséssemos caminhar para explorar o lugar teríamos que dormir ali, mas uma coisa não agradava aos nossos olhos, os lacandones de Lacanjá calmos que conhecemos nada tinham a ver com os daqui que estavam completamente embriagados, iam caindo pelo chão, se arrastando, nunca presenciamos algo assim na viagem, não sei por que, mas não queria ficar ali, não me sentia segura e a vontade naquele ambiente, era terrível ver homens e mais homens bêbados, não era isto que nós esperávamos encontrar justamente no coração da selva, e foi assim de decidimos fazer todo o caminho de volta em direção à Palenque justamente na sexta-feira da Paixão.

Os dias na selva Lacandona foram mágicos e estarão para sempre em nossas lembranças, seja pelo contato com as culturas perdidas, renovadas e misturadas, ou pelo simples prazer que nos proporcionou estar em contato direto com tantas belezas naturais, sem falar de ter sido um remédio para nossas preocupações com o clone do cartão do banco!!!

20 comentários Adicione o seu

  1. Mais uma vez estão de parabéns!! Que lugares maravilhosos, que cor de Agua era aquela, parecia uma piscina.

    1. expedicaoih disse:

      Obrigado Marcelo, não cansamos de dizer que o México é todo colorido!

  2. Gloria disse:

    Sem palavras pra descrever tudo de lindo q vcs estao vivendo .E com isso deixando q nós participemos nem q seja virtual dessas MARAVILHAS DE DEUS! PARABENS! bjos

    1. expedicaoih disse:

      Deus caprichou e muito no México, tanto canto com seus encantos :)! Beijos e obrigado!

  3. Dani disse:

    Posti meravigliosi e voi viaggiatori curiosi e instancabili: il binomio perfetto.

    1. expedicaoih disse:

      Ciao Dani,
      Sì il Messico è troppo bello, sarebbe un peccato non visitarlo con calma, ci sono tante bellezze e ricchezza culturale da vedere!

  4. camilapicolli disse:

    Muito lindo o lugar!!! Amei, quero ir também 🙂

    1. expedicaoih disse:

      Camila aproveita que é perto do Caribe e coloca no roteiro, vale a pena! Beijos!!!

  5. Priscilla disse:

    Achei o site de vocês por acaso… Já gostava do México, pela sua história e cultura, mas vendo esses lugares que vocês foram, fiquei extremamente apaixonada…. Não vejo a hora de poder, um dia, ir conhecer esses lugares. Parabéns e obrigada por mostrar um pedacinho mágico do nosso planeta!!

    1. expedicaoih disse:

      Olá Priscilla, o México realmente é incrível, estamos na torcida para que em breve você possa estar desfrutando pessoalmente das belezas e diversidades deste país.
      Abraços e obrigado,

      Daniele

  6. jac disse:

    Adorei ler a aventura desta selva de aguas verdes. Nunca imaginei ver um rio com águas tãoclaras , Parabéns de novo pra meus viajantes prediletos.

    1. expedicaoih disse:

      Jac, todo mundo quer dar um mergulho nas águas claras de Chiapas, até eu quero voltar!!! Beijo e obrigada!

  7. Evandro Espindula Frade disse:

    Muito lindo estes lugares,estou maravilhado!
    Onde vcs estão agora e pretendem voltar ao Brasil?
    Grande abraço!

    1. expedicaoih disse:

      Olá Evandro, estamos de volta aos EUA e sem previsões de data para chegar ao Brasil, só depois que de setembro saberemos melhor!
      Abração!

  8. Joel Zulian disse:

    Show de bola estes depoimentos.Tô com vontade de fazer tbm essa viagem.Abraços Joel e Luci

    1. expedicaoih disse:

      Joel e Juci, vcs irão gostar muito do México, vão pensando aí na viagem! Grande abraço!

  9. mjmcgowan disse:

    Hey Guys it would be great to add you’re site to OverlandSphere.com, please let us know or register directly on the site. Safe Travels

    1. expedicaoih disse:

      I registered, thanks for the invitation!

  10. silvia disse:

    Olá, nossa que imagens lindas, gostaria de postar no meu facebook se vcs me autorizarem.
    E boa viagem. Bjsssss

    1. expedicaoih disse:

      Olá Silvia, vc pode usar as imagens dentro do blog sim!
      Obrigado e abraços,

      Leonardo

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